sexta-feira, 22 de abril de 2011

ACABOU O XAMPU - personagens e cenas iniciais

Personagens


MARIA
JOÃO
MARIA MAIS NOVA













ACABOU O XAMPU
Alguns dramas em um único ato




EM UMA CENA QUASE VAZIA DE OBJETOS, MAS REPLETA DE SIGNIFICADOS, SURGE MARIA MAIS NOVA. NO CENTRO DO PALCO, UM BANCO DE PRAÇA ONDE ESTÁ SENTADA MARIA. ALÉM DO BANCO, APENAS ALGUMAS ESCADAS E UM BALANÇO.

MARIA

(ENQUANTO FALA SOZINHA, ESBOÇA SORRISOS NASCIDOS DE SUAS LEMBRANÇAS) Dezesseis ou dezessete anos... Dezesseis! Eu tinha dezesseis anos, isso mesmo! Eu olhava a praia...  O mar batia forte com jeito de ressaca.


MARIA MAIS NOVA
Droga de pesadelo. Novamente a agonia desse mar batendo. E eu ali, de-ses-pe-ra-da, querendo nadar. Do nada, vem uma onda enorme, bem aqui do meu lado esquerdo. Eu nunca vi onda se formar do lado esquerdo da pessoa! Lá na frente, a areia, e depois da areia, mais água. Não acabava nunca mais.

                                               MARIA
De repente, aquele homem chegou perto de mim: “O mar é belo não é, minha filha?” E eu, sem nada responder. “A vida também é bela”. Ele podia ter razão? (PAUSA) Minha mãe veio novinha para o Rio de Janeiro. Ela era do interior de São Paulo e logo que chegou aqui conheceu meu pai. (RISOS) Minha mãe, em sua obsessão interiorana, manteve firme o desejo de morar perto da praia. Mas não podia ser qualquer praia, não... Tinha que ser Copacabana. Ela disse que tinha vindo para o Rio para viver em Copacabana e que, dali, só sairia morta.

SILÊNCIO.

MARIA

 Alguém disse, um dia, que a filha de um senhor de oitenta anos foi visitá-lo num sábado à tarde, como fazia sempre. Então ela colocou a chave na fechadura, mas a porta estava trancada com um trinco, desses antigos, tipo corrente. A filha não conseguiu abrir a porta. Ela podia ver, pela fresta, que dentro da casa não havia nenhuma luz acesa, nada; não havia nenhum barulho; só um espaço enorme entre o vazio da casa escurecida e o quarto do pai: “Pai?”. (ANGUSTIADA) E ela começou a gritar alto, a tentar arrebentar o trinco. A vizinhança apareceu e um rapaz conseguiu arrombar a porta para ela. A filha então entrou correndo na casa gritando: “Pai! Pai! Pai!” (SILÊNCIO). O senhor morreu sozinho no apartamento. (REFLETE SOBRE O QUE ACABOU DE DIZER) Engraçado... Eu não tenho medo de morrer só. Eu morro é de medo de viver assim.

MARIA MURMURA UMA MÚSICA. NESSE MOMENTO HÁ UMA ANTECIPAÇÃO DE UMA CENA QUE VAI SE REPETIR MAIS ADIANTE.

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